Estou a mais de um mês sem escrever aqui, peço desculpas aos
que me visitam por isso. Ainda não vou postar um texto meu, mas quero aqui
socializar um excelente texto do amigo Wanderson Mansur.
Os limites do capitalismo verde
A questão ambiental
tem se apresentado como uma das mais prementes do momento histórico que
atravessamos, sua problemática tem lançado incertezas sobre o futuro e colocado
em xeque o atual modo de vida – baseado no consumismo e na descartabilidade.
A continuidade
desse modelo tem sido questionada, principalmente pela finitude dos recursos
naturais - antes tidos como inesgotáveis, e que agora mais do que qualquer
outra idéia ou ideologia tem se colocado como um entrave objetivo na reprodução
do capitalismo e sua sociabilidade consumista.
O atual momento de
crise, protagonizado por catástrofes ambientais e mudanças climáticas,
indicando alterações profundas da Terra, em resposta às ações degradantes
imprimidas pela humanidade e seu modelo hegemônico de desenvolvimento.
Há uma crença na
possibilidade irrefreável de um desenvolvimento progressivo e linear das forças
produtivas, embora a natureza demonstre sinais de esgotamento. O modelo não é
revisto ou mesmo questionado como sendo insustentável para as futuras gerações,
ao contrário, o esforço é para demonstrar que o atual estágio de
desenvolvimento é capaz de produzir por si a saída.
Num mundo permeado
pela técnica, pelos meios informáticos e de comunicação global, a saída não
poderia advir de outro lugar senão da tecnologia, cada vez mais vista como o
agente capaz de mitigar os impactos gerados pelo modelo predatório em curso.
Como os países não
querem rever seus índices de emissão de gases de efeito estufa, a alternativa
encontrada por eles para frear as mudanças climáticas provém de pesquisas
científicas nas áreas de geoengenharia e nanotecnologia, que mais se parecem
experimentos de filmes de ficção científica. Trata-se de processos de
intervenção humana no clima por meio de tecnologias capazes de alterar o ambiente
planetário a partir de aspectos físicos, químicos ou biológicos do ecossistema
global.
A saída tecnológica
divide opiniões. De um lado, a comunidade científica que tem se colocado
favorável a esse tipo de alternativa, e do outro, ambientalistas veementemente
contrários a tais idéias, por alegarem que não existem estudos científicos
confiáveis capazes de assegurar a eficácia desse tipo de intervenção, e ainda
alertam sobre os impactos irreversíveis, caso fossem implantados.
Os principais
argumentos dos ambientalistas contrários a tais práticas residem no fato de que
a manipulação da natureza em grande escala segue desconhecida, e podem
representar um risco à biodiversidade; os projetos são caros, orçados em
bilhões de dólares e tem sido vistos como dispositivos utilizados por governos
para deixar de tomar as medidas necessárias para a diminuição efetiva da
diminuição das emissões de carbono na atmosfera.
Esse é apenas um
prelúdio do que serão as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a ser realizada em junho, na
cidade do Rio de Janeiro.
Tendo em vista o
contexto de crise sistêmica do capitalismo, espera-se poucos avanços e
compromissos. Na verdade a crise é mais um pretexto para que o capitalismo reafirme
sua flexibilidade e aproveite esse momento como mais uma oportunidade para se
desenvolver e manter sua hegemonia. A bola da vez é apropriar-se das riquezas
naturais, e aproveitar o encontro global para aprofundar os mecanismos da
economia verde e desenvolver um bom business, os famigerados
“negócios verdes”.
No entanto, haverá
sim espaço para discussão crítica e lúcida acerca das crises que enfrentamos.
Esse espaço é a Cúpula dos Povos, que está sendo proposto por movimentos
sociais e de ambientalistas e acontecerá paralelamente ao evento oficial. Com o
lema, “Venha reinventar o mundo”, eles pretendem debater as causas estruturais
da atual crise civilizatória.
A pergunta que fica
é a seguinte: é possível desenvolvimento sustentável no capitalismo? Creio que
sustentabilidade e capitalismo são termos diametralmente opostos e que a
resposta mais concreta e radical, tanto à crise financeira, quanto a crise
ambiental, seria o ecossocialismo, fundado não mais numa divisão
binária-cartesiana entre homem e natureza, mas num modelo de sociabilidade onde
os seres humanos não são vistos como hierarquicamente superiores as demais
formas de vida, e onde a produção de valores de uso estaria a serviço da
satisfação das necessidades sociais e a preservação do meio ambiente.
O texto esta publicado no Página 13
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